Janine Retilínea e o engenheiro Desmanche * Conto erótico



Janine Retilínea se maquiava em frente ao espelho para retangular seus quadris em tons de caquiz e verdes olhares velhos, usava paletó de homem para enquadrar seus ombros e parecer móvel de antiquário para arrastar-se até o seu curso de sintaxe da reta praxes, praticamente um poste, Janine era a mulher totem que todo mundo orava ao vê-la passar pela construção barulhenta de pernas caladas.

As pernas de Janine eram um mistério para os operários que curiosos e excitados, comentavam: Que puta secreta, essa mulher reta! Ah se eu te enfio minhas curvas. Essa mulher, é certa, é santa, é a gramática que lhe completa. Não, discordava o outro: Ela, não é ela, não tem boceta, tem uma vagina dura que nem viga, mas é cinza como toda mulher deve ser. E logo, o engenheiro, Desmanche, negro, chefe, também operário, dava fim aos comentários: Calados! Voltem ao trabalho! Não estamos aqui para construir nada, nosso objetivo é desmanchar! Antes que suas orações e frases de efeito impermeabilizem o céu, eu encontro a verdade. Mas, senhor, a verdade nesta mulher, o senhor há de encontrar, é santa, veja, não erra, passo sobre passo, teve a coragem de passar por dentro da construção até a universidade! Eu sei, dizia Desmanche, e ela nem olha para os lados, deixa a gente com uma dor no peito interessante, limitante, mas deve ser canalha.

Toda mulher é canalha. Lembrem-se, não estamos aqui para construir nada! Sim, senhor, eu já vou desmanchar. Desmanche era assim, de notável engenharia, firme, nada construía, e sabia comandar. Mas, Janine, no outro dia, insistia, passando pela construção, e num átomo do som de seus passos, olhou para o lado e viu o negro: Desmanche estava sem camisa com seus músculos de ouro, suado, de brilho do sol, marcado pelo seus enredos e lamentos, chorava sobre o cimento, deixava cair uma lágrima por que acreditava que assim, tudo que era construído desmanchava.

E Janine atraída pelo seu queixo, tocou o negro com as pontas dos dedos e seguiu seus músculos definidos por quadrados de tanto trabalho, e de disciplina, desceu seus dedos até suas virilhas e encontrou o reto de veias, livres, vermelhas, quentes, e Desmanche suava de prazer, enquanto Janine metia com sua boceta e Desmanche ejaculava o som por seu pênis ereto de sentir tão certo, os dedos , as mãos, os seios, Janine era, mulher!

Mas onde penetrou Janine, e antes que a resposta lhe contasse o enterro de sua boca, Janine se foi. Desmanche sozinho, preocupado com seu orgasmo de atingir o céu, cuidava para que seus dedos não tivessem deixado marcas, mas não os de Janine, os dedos dele, pois o céu deve ser limpo e não toca em nada. Assim acreditava. Não estamos aqui para construir nada, e esse orgasmo provocado por essa mulher canalha me penetrou para construir um novo céu! Eu disse ao senhor, fala o marceneiro, ela é santa, é o milagre da reta, descreve um caminho sem curvas, é honesta, essa mulher é honesta!

E o negro desconfiado, pensa, que céu é este plano, sem emendas, reta contínua que não vira, mas ela virou, eu sei, no seu caminho reto, desviou e olhou para mim. E Janine, realizada por ter tocado mais que o queixo do engenheiro, foi até o espelho do banheiro, e num gesto curvo, fez um bocejo no espelho que denunciava o seu desejo por dentro, assinou o vapor de seu mais íntimo enredo na sala do banheiro de espelhos: Janine é curva, agora que conhece o infinito negro.

E saiu pensante a retilínea Janine, o negro tem razão, a verdadeira engenharia é a desconstrução, e se quisermos a verdade, temos que desconstruir toda a nossa decoração, mas o negro perde a razão quando chama toda mulher de canalha, eu admiro o negro, como ele protege o seu céu até de seus próprios dedos, mas perderá o sentido se não aceitar que todo céu tem movimento, todo mundo perde o sentido ou ganha razão em algum momento, é a vida, lamento. Aceite negro, diz Janine para si mesmo, até na desconstrução há movimento. E se foi embora Janine para o seu curso de sintaxe da reta praxes, pois Janine era especialista em linguagem, e com sua vagina um dia desconstruiria a má oração, mas, porém, com sua própria razão.








































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