A floricultura cinza / conto erótico


O relógio marca quatro para as sete, três para as sete, dois, um, em ponto abriu Zemeneu sua floricultura num braço até a metade para não entrar o sol, e deixar a penumbra borrifar suas flores, sem cores, pois as cores também não são para as flores, repetia ele para cada cliente que reclamava da floricultura escura, era essa sua principal razão, medida, à régua; arranjar os arranjos com flores de espanto e laços pretos, como rosas viúvas, turvas, e janelas com persianas, com suas flores planas, verticalizavam o reflexo da luz do sol, organizado, para administrar o claro e escuro mundo, num cinza preto, nuances de negro, era o claro cinza do absurdo, e Zemeneu estava pronto para vender o mundo; e entram dois clientes. -Pois não, senhores, do querem das flores. -Abusar. -Claro, vejo pelos seus negros coturnos e cabelos coloridos que insistem no que não há. -Há ainda, vejo aquele vermelho e aquele amarelo enterro escondido debaixo do cinza. -Oh, desculpe senhor, ainda não tive tempo de desfaze-lo, por demais caídas que sejam meus amarelos cinzas.  -E por que o verde ainda está? -Quer comprar,  faço um preço barato por que me desfaço do que me ocupa o espaço. -Não. Nós queremos colorir. -Colorir, desculpe, não posso concordar, mas há outra floricultura naquela esquina, que certamente venderia, flores coloridas, dizem até, falando baixinho, que são comunistas. Diz Zemeneu. -Por que nos interessaria os comunistas? -Pensei que talvez quisessem se reinventar, mas... -Mas? -Penso que talvez não tenha outro jeito, tudo é cinza. -Quase, senhor flori-culturista, Diz um dos clientes mostrando a arma. e Zemeneu percebe o enrosco que se meteu, levantando os braços para cima e tenta controlar o que não devia. -Leve-me tudo senhor, mas não atira. -Não, por certo que não, vá para os fundos, e nada diga. -Sim senhor, sim senhor... mas não atira! -Senta-te! Os dois clientes: agora como donos da floricultura, amarram Zemeneu na cadeira com cordas contadas, nós de gravata bem apertada e perguntam onde está. -O quê? Onde está o quê? -O radio! A vitrola, o toca cedê? -Ali! aponta. E entra um hard-rock, pop punk, num refrão agudo, gutural, num baixo profundo, de abrir as camisas, beges envelhecidas, botão por botão, até exibirem os peitos, fortes, rústicos, alisavam-se até as braguilhas, até abri-las e engolirem tudo, num sexo oral cabeludo, até a garganta, vira-se e nádegas espanta, definidas, redondilhas, quase femininas, penetravam-se em gemidos mudos, até gozar, gozaram, e foram para cima de Zemeneu que estava excitado, sentaram, um a um, no pênis do pobre-coitado, era de ir e vir as bundas, e de arma apontada para sua cabeça, ameaçaram, se você gozar eu te mato! -Não, não, disse um não irrespirável. Acabou a música e perguntaram: -Onde fica a saída deste latifundiário? -Lá nos fundos, tem um portãozinho que é quase um vulto! Respondeu temerário. Jogaram a arma no chão do espaço, e correram deixando Zemeneu perturbado, -Eles me roubaram, será que eles me roubaram, o que foi que me levaram, senhor? Investigou toda floricultura e não havia um item sequer fora do lugar, tudo deixado como ele havia colocado. -O que foi, o que foi que me levaram? O desespero tomou conta, até que percebeu, correu para o quarto e no lençol branco traçou com uma régua uma linha esferográfica reta, e se masturbou, pensando nos dois, ahhhhhhh, ejaculou, sobre a geometria certa e contou mais uma vez com uma régua. -Está tudo aqui, gota por gota, inversamente proporcional à distância entre as porras, posso medir as manchas, na cama, não me levaram nada, eu ainda tenho... o controle!  Orgulhoso, Zemeneu, deitou-se sobre o lençol plano, e feliz da vida, recuperou o seu cinza cotidiano entre o preto e o branco.



                       

Comentários

genialidade tem destas coisas ... parabéns ...
Unknown disse…
Rapaz! Que final inesperado! Parabéns!