Entrou o nobre velho inglês com sua balança de corte e seus pesos e medidas diante do conselho dos lordes carregando sua foice forjada a ferro e ouro de uma cláusula estampada no vapor. Sentou-se à máquina movida pelo carvão operário e cuspiu com a etiqueta da autoridade na câmara dos comuns diante do jovem condenado, à meia luz, diga, jovem irrequieto, por certo, que século lhe defenderia? -O século da luz, senhor? -Mas se tua juventude já não basta, no que mais crera um jovem criminoso? -Não cometi crime nenhum, senhor, apenas usei o tato no escuro espaço. -E o que procurastes na legal e legítima escuridão? -A justiça. -À medida! Gritou, um dos lordes riscando com o dedo a penumbra da câmara, certo de que tinha a palavra. -Silêncio! Toma-te o decoro, lembra-te conselheiro que disciplina também é a real conduta de uma medida justa. -Perdão, senhor, mas urge o tempo em que o tato deva ser devidamente condenado. -Mais até do que o criminoso? -Sim, corte-lhe as mãos, senhor. -Não! Gritou o jovem condenado, eu apenas me apoiava na escuridão. -Dizem que o crime de teu tato é o sentir que te faz ver. -Sim eu vi, mas como homem comum, senhor, toquei, uma larga coxa. -De um homem nu? -Nu, todos nós somos, senhor. -Por decreto, todo homem deve ser despido no quadrado. -Negro e largo. é a lei. -Perdão, mais uma vez, excelência, mas a lei é de que no quarto-escuro ninguém nada saiba. -É mas este jovem sabia que a coxa do homem era larga! Acusa o advogado e pergunta o juiz presidente: -É verdade cidadão? -Apenas procurei com as mãos, excelência. E se levanta absoluto o advogado de acusação: à medida, ele procurava a medida do bíceps, do tríceps, do tórax, e se não bastasse a pretensiosa busca, ainda usou de tecnologia que é a prova da recusa! -Recusaste, cidadão, usando de tecnologia para negar a lei? Perguntou o ministro, com sua velha balança, franzindo a testa e decidindo no punho à espera da resposta incerta. -Senhor, eu nada via, liguei o celular por meia luz, quase nada, uma fração azul que iluminava. E grita o juiz -Para ver, e assim, ofendeu a lei, desfez de nossa solução, um quarto escuro que desfaz qualquer hierarquia, de classe, de vestes, de famílias, de raças que se tocam, afinal limpos por estarem tão bem escondidos, trancados num quarto público os jovens, maridos, velhos ou moribundos, coloridos, ou mal vestidos, todos estão lá, iguais, pelo milagre da lei, a maior invenção de um nobre inglês, um Dark-room, e você acende, ofende, toca e quer ver. -Não entendo, senhor, meu pecado foi querer saber? -Não, foi ver, pois querer saber vem depois. Respondeu o ministro e interferiu o advogado de falsa defesa. -Senhor, permita discordar, de vossa excelência, mas deste criminoso, o crime já era o querer e depois de ver, ainda vai querer ter a escolha. -Silêncio, pois ele quis do mesmo jeito e não importa a ordem dos termos. Conclui o ministro de acusação, mas mesmo assim o advogado tentou recorrer da sentença usando a crítica de seu ofício apelando para o juiz. -Então, qual é a acusação, eu pergunto ao juiz, diante dessas três coisas, por que mais adiante, ainda, depois da terceira escolha, ainda tem a compra, sim, pasmem, oh, júri popular, pois se todos vêem, todos vão querer comprar! Perguntou afirmando o advogado já ansioso por uma sentença ao acusado, e o pobre coitado do jovem condenado se deu por vencido e mostrou o nu de sua beleza e depois disso o juiz proclamou a sua sentença: -Bem, penso que, como juiz, que depois de ter acendido a luz com seu belo corpo, esse jovem criminoso deve ser condenado à morte, crucificado por toda a beleza, essa beleza que nos faz ver que os homens têm sim diferenças, belos e feios ferem a igualdade de nossa margem, a lei é clara, num Dark-room todos são a mesma coisa, assim do seu corpo eu só posso condená-lo à morte! E o juiz assim o fez: acendeu o quarto escuro, e o jovem foi condenado ao sucesso, já aceso foi obrigado a se vestir, e não mais pelado, seguiu de gel no cabelo, bem cortado, bem vestido, para o seu destino de óculos escuros posando como filósofo de modelos. E todo mundo viu, e no registro da sentença, disseram todas as igrejas: amém, até os Latino-americanos e os Russos que aplaudiram a cara beleza para um novo sócio na sociedade de consumo de novas aparências, mais há quem diga que agora este jovem condenado de carro importado à luz acesa é que realmente não vê nada, melhor era quando estavam todos de luzes apagadas.

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para novos sócios.