O velho ferreiro fetichista / Conto erótico

                      

É o fim dos tempos, pois se a dúvida move a sombra e o homem não sabe porque veio na casa de um velho ferreiro, pobre-coitado é o sol que já esfria, entre logo, entre meu caro jovem escudeiro, entre pela subserviência de tua falta de educação e de tuas fraquezas.  -E uma bela frase, senhor, mas como sabes que estacionei na porta. -Ora, eu vi o ir e vir de tua sombra, antes mesmo de anunciar sua derrota. -Eu não bati e não sofri nenhuma derrota ainda, senhor. -Vejo que não bateu, mas quanto a derrota... -Desculpe-me, senhor, o que me trás aqui é urgente. -Urge vossa fé que não move seu punho e não te anuncias. -Oh, perdão, sou apenas um jovem noviço que está em guerra e educação não é arma. -Então, meu jovem, tu não sabes de nada. -O que dizes, senhor, quer que eu vença uma guerra sendo uma educada donzela que bati na porta e se anuncia. -Eu já vi muitas mulheres anunciarem o corpo para o fim de uma guerra e também de uma má educação. -Creio, senhor, que se uma mulher educar com o corpo faz uma literatura de pecados. -Pecado é o erro de julgar o corpo intocável. -Mas, senhor, o corpo se intocável deve ser perfeito, mas isso só o corpo do misericordioso. -Então rapaz se o corpo do misericordioso for intocável é porque ele precisa ser educado. -O que dizes, senhor, crês que o deus todo poderoso precisa ser educado? -Sim, porém educado como essa espada que teima e não se anuncia,; nem à ferro, água e fogo. -Mas senhor quem educa não é o ar. -De mal jeito, pois tente fazer uma espada num dia de vento. -Sei, voa a brasa, e se não é o senhor bom ferreiro, o olho se distrai, e a brasa o queima. -Queima sim, mas quem se distrai é o homem, não é o vento, jovem noviço, o vento só sopra. -Eduque vosso olho então, senhor. -Não posso, tu mesmo me dizes que educar pelo corpo é pecado. -Não se fora para se desviar do diabo. -Diabo, quem, a brasa? -Não, o movimento, do vento, que move a brasa num tiro certeiro, queima e cega para nunca mais olhar para as virtudes.  -Estranho. -O que é estranho? -Não existe arma sem o vento, nem ferradura e nem espada. -Eu sei, és a ferradura a base de um bom cavalheiro e o aço sua arma: espada. -E o corte? -É do homem. -Então jovem noviço, fiel espadachim, saia de minha casa e corte por si mesmo. -Não senhor preciso de vossa ajuda. -E imagino que não seja com o corpo. -Claro, não com o corpo, e sim com vosso ofício, senhor, sei que tu ouves o som do aço correr como um rio de prata. -Quem disse isso? -O povo. -Menino, cuidado com que ouve do povo com o teu corpo, jovem ouvido. -É o desespero, senhor, vão invadir Jerusalém! -E tu, pretende salvá-la? -Sim, com a espada que o senhor forjará para mim. -Ah, Deus, por mim tenha misericórdia, e mande embora este jovem que me atrapalha. -Como bom cristão, senhor, você não se importa? -Não posso me importar com uma cidade que não quer ser salva! -Blasfêmia, o povo sofre. -Sofrem por que não tem ainda a espada que corte. -Então, bom cristão, velho ferreiro, tenha misericórdia e dê para mim a espada. -E por que eu daria, você quer a espada ou o controle? -Sim, a espada, pois com uma arma teremos o controle da obra. -O muro. -Um paredão, de lamentos, os meus e os seus, pois os corações já empilharam pedra sobre pedra. -Uns sobre os outros, então eduque use o coração e não lute. -Não, isso não, coração também é corpo, erra. -Você quer que eu lhe faça uma espada para defender a palavra. -Sim. -Você não tem vocação. -Para a espada? -Para a palavra!  -Eu acreditei na palavra, para defender o meu futuro rebanho, dizem que o senhor sabe ouvir o som do aço, o som do corte, antes mesmo da dor do homem. -Menino, ouça e se cale, pois se eu pudesse ouvir pelo menos o som de cada corte feito por uma simples faca, jamais faria espadas. -É mentira então! -Eu ouço a dor do homem e não do corte e isso já me basta! Veja isto. -Você se auto-flagelou. -Sim, com meu próprio chicote, os cravos fui eu que forjei, fui eu que fiz, com o talento de um velho ferreiro. -O senhor não tem amor! -Eu tenho prazer no corte, mas você não tem nada, sinta isso. -O que é isso, o que fez? -Eu lhe beijei. -No rosto. -No corpo. -Não é meu pai! -Então lhe beijo na boca. -Meus lábios! -Calma, eu não lhe roubei nada , eles ainda estão aí, e os meus lábios estão aqui, sente-se nesta cadeira. -O que está fazendo, por que desceu seu avental de couro? -Estou mostrando-lhe a espada. -Só por deus, só mesmo o criador para trazer ao homem uma espada que não mata e faz nascer, mas sento e olho.  -Senta-te que ainda não está pronta. -Não? -Toma-te com as mãos. -É macia, e forte. -Ainda não, toma-te com os lábios. -Sinto o sangue. -Mal cabe na sua boca. -É pulsante. -O sangue corre quando é verdadeira a espada. -São veias, tua espada é verdadeira. -Mais. -O que? -Mais, garoto, mais rapaz, faça como o ir e vir de tua sombra. -Na porta? -Sim, porém, sem a dúvida. -É quente. -Tua saliva é fria. -Mais? -Até a garganta! -Não...-Ohhhh -Não, não, senhor, o que é isso? -É leite. -Teu sangue é branco! -Tua boca é sapiente. -Não, nunca fiz isso, tenho pouca idade, confesso. -Perdeu a pureza, mas era necessário. -E agora, estou em pecado! -Sim, está em pecado, porém vive, como homem sem muro, agora siga, em direção à palestina. -Mas por que não Jerusalém? -Esta cidade não é o teu muro, e no futuro muitos palestinos atravessarão os muros só para beijar outros homens israelitas arriscando as próprias vidas. -Com suas armas? -E com seus lábios. -Como assim, não são soldados? -São anjos. -Anjos do futuro?  -Não garoto, anjos do agora, que é uma outra forma de atravessar o muro, vá. E assim ele foi, beijou o muro com seus lábios e se fez anjo com seu novo estado.                 

Comentários

Zeka Viola disse…
Muito bom!!!!! Inesperado! Sureal! Bravo sempre!!!!

Surreal ... sensualidade pura as ilustrações ...

amei

bjão