O menino em oração / conto erótico

Corria o menino pelo riacho se despedindo do milagre, quando o noviço padre, recém-ordenado, quis saber do que ele se despedia. E o menino respondeu: do milagre, do cardume prata que me morde os calcanhares querendo as sobras do meu caminho, padre, corro, do compromisso da catequese e da construção de suas torres, cruz nenhuma eu sei fazer, não empilho tijolos sobre a terra, padre, e do esforço de virar homem já conheço a enxada. Eu sei, tu corres do trabalho capital, da obrigação, mas se tu corres em vez de pescar os peixes, come o que? Mordo o vento, depois de carpir o riacho com os pés. Mentira. Ora, veja as pedras lisas padre. Você quer substituir o trabalho das águas, ou quer fugir da enxada, das obrigações de catequese, aceite e não corra, decora o pai que eu lhe dou os peixes, aceite. Não, não seu padre, eu quero voar. Mas pelo rio, pois se és um anjo, por que não pelo céu? Não conheço. Fica em cima. Eu fico em baixo correndo do milagre e do pecado. Dê a mão para a palmatória, e vê se em vês de se despedir do milagre, decora. E do pecado, faço o que? Use o perdão, confessa-te e ora. Para quem? Para o pai. Eu perdi, o meu morreu. Não por isso, ore então por você. Prefiro correr que o peixe não me alcança. Mas o peixe é o milagre por que se despedi e não pesca? Por que posso andar pelas águas até o fim do rio; e do rio o senhor não reclama de nada. Reclamar do que, o rio tem que correr. E o homem trabalha. Claro, pesca, enxada, todo mundo tem que comer. Eu voo. tenho certeza que tu não voastes ainda. Por quê? Largue de tuas asas e veja as figuras. Mulheres nuas! Eu sei, conheces? Mas já vi. Aonde,  no rio? Ao se despir. O rio que corre realmente perde o vestido, transparente nu é o riacho, ele se despi na seca e morrem de medo os peixes. Padre, quem parece ter medo é você. Não me toque. Por quê? É pecado. Então eu corro. Não corra fique e cresça. Agora quem me toca é você. Quero o milagre. Então, crês, padre, que posso dá-lo para você. Sim. Então fique nu e se deite. Por quê? Por que não amo quem se vesti. Então por que você não ama e se despi. Sim, estou nu. Inocente. Sempre. É por isso que corre, da velhice. Eu sei que todo mundo envelhece um dia padre. Não se eu beijar você. Beijou-me nos lábios padre, por quê? Dois rios que correm jovem, deveria saber da mulher. Então por que o senhor não quer saber? Sou padre. Sou homem, e por isso amo-te e banho teu corpo com minha saliva até o meio de tuas virilhas, toco-lhe a gene pelo gosto, salgado de perder a inocência. Isso é sexo. Isso é poesia. Aos olhos de deus isso não é rima. Então padre, respira e deixa. Deixei. Agora sim eu bebo todo o vinho do teu corpo. E o milagre? Corra! E o menino correu, deixando o padre na beira do rio, parado, é bem mais fácil para pegar o peixe, mas assim o homem não pesca, e pensando no pecado, o padre entardeceu, e o menino se arrependeu, disse que se a moeda era de César o milagre de igreja não era de deus, não quero ficar com esse negócio que não é meu, adeus, adeus, e o menino correu pelo riacho se despedindo das igrejas e do pecado, mas não por que fugia e sim por que queria ir para além da virtude e morar no mistério, mistério que era aquela tal esperança de ser possível um dia ter a ciência da liberdade, que era o verdadeiro milagre.

Comentários

Fred disse…
Irretocável este teu texto, menino!!!

Passando para agradecer seu comment no níver do TPM... valeu mesmo! E já te parabenizo pelo teu espaço, Julio! Hugzão!
Fred disse…
Hering Rasti foi tipo o pai do Lego... hehehe! Adorei! E tipo assim... em qualquer idade a gente ainda sente saudade de muita coisa, nzé? Hugz!
belos contos os teus, li varios... t escrita flui, parabens!