UM VELHO PALHAÇO PELADO / 2014



Ouvi um estampido e pelo avesso das gavetas, um buraco no palhaço pelado deveria mudar o mundo, com a piada, engavetada, mas pelo avesso ao revés, ao revés tem muita graça, pelo avesso eu separo o ovo da clara, pelo avesso a piada deveria ter sido contada, mas cuidado que um dia ela te cala...calada! calada é a piada segura, há quem acredite que a boa piada até cura, murmura as regras duras do contrário e da um golpe no livre homem, tolo, bobo, o tempo todo para não crer na censura que é a tragédia, a tragédia é destino e não nos deixa escolha, mas não saber! Não saber é a piada certa, ignorar é dos burros, mas não saber por ingenuidade o ingênuo muda o mundo: o palhaço! Cadê a prova, o buraco, o documento que prova, anos e anos de trabalho, eu procuro tudo, até a chave do buraco do mundo...cadê?

Papéis e um guarda-chuva, onde está minha carteira de trabalho, deve estar suja, empoeirada, o registro da piada como se o riso tivesse garantia e assinatura de dar fé. Dou fé, que é engraçado. Ri desgraçado! Ri dos meus anos de dedicação e trabalho e o palhaço aqui já deveria ter sido aposentado, mas não, estou preso no limbo desta depressão, esquizofrenia, que não é crença suficiente para ter pelo menos o auxílio para um homem doente, eu nem deveria estar aqui...eu já aposentei o meu verde fosforescente de minha bandeira descrente.

Sabem, eu vivi para a pátria por uma promessa e agora, justamente agora que eu cumpri o meu dever, a pátria me nega, o direito, de estar aposentado, com meu digno descanso remunerado, mas bem, e agora, ora, ora, que piada, e não é que eu achei, achei, achei a fotocópia, xerox da minha bunda de nádegas tortas, pornografia, não senhor, mas creio que com isso não me aposento, mas empiná-la é graça, pois há quem diga que até é a piada fácil, repetida e recontada ao revés...transviado, meu palhaço marginalizado só por que meu pinto fora desviado pra não ser usado e eu fui acusado de peculato, preguiça, não tem carteira de trabalho, vagabundo deita no chão, maluco encosta no muro irmão, mãos pra cima que sem um pinto carimbado eu te levo para delegacia!

Calma senhor, eu sento e explico tudo, eu sou artista sem garantias, vivo do riso frouxo, generoso de um público caridoso, mas riso autenticado, em cartório escolhido pelo governo, e de um primo indicado pelo palácio do planalto no plano alto dos mais caros cargos de confiança, nos largos anais deste ministério paralelo que é o riso sério.  Muito sério, muito sério o senhor não viu graça, é que a palavra colocada na piada errada, algumas vezes falha, não deveria ter dito largos anais, quem sabe, relaxados... abertos talvez...,

Ai, ai seu policial...

Eu apenas quis dizer, abre-te policial, e pare de me bater que o sorriso vem, ... ai, ai que dói essa borracha não tem graça, ai, que dói as têmporas com esse telefone de orelhada, dói até pro orelhão fincado na calçada, dói seu policial, não bati, não bata, eu sei que o senhor cumpre sua promessa de me dar um tapa que a minha piada fala...

Tudo bem, eu digo...eu aposentei o meu circo e como vê...eu nada sei, mas o que quer saber?

Não fui eu que fiz aquela música, falei, nem poderia ter sido, mas joguei água para fora da bacia numa plateia de autoridades públicas por que era tudo santinho de papel picado colorido, jogado sim no gabinete do prefeito, mas aquela trova em verso na praça, o verso não era meu, muito menos aquela praça, a praça é sempre do prefeito, senhor, e com louvor, todo prefeito merece uma praça, foi o povo mesmo que prometeu, um pracinha pra chamar de seu, vossa excelência sua autoridade, quem o senhor procura, não sou eu!

Não fui eu que entreguei a piada daquele sujeito careca que desmunhecava, seu guarda, eu nem acho que ele tenha muita graça, há sim, senhor, piadas e piadas, mas as minhas são devidamente regradas na disciplina do ombro-arma, na cadência de quem não falha, no brilho do coturno amarrei a boa piada, séria, muito séria, como é o verde da bandeira representando a mata, acreditei na promessa de que se me dedicasse a pátria, um dia eu me aposentava ... Não ri, não ri seu guarda, o verde da promessa é a mata, o azul é o céu dos seus benefícios e o amarelo é o ouro dos fogos de artifício...

Sei sim, sei que foi roubada, a pátria, mas não foi por mim, ao contrário, eu lutei por ela, venci no Monte Castelo por causa justamente de uma boa anedota bem contada, fui palhaço, enrolei o jornal por dentro das botas congeladas e não há quem não ria deste improviso que salvou as nossas vidas no rigoroso inverno da italianada, essa fora a piada, em 21 de fevereiro de 1945 na quarta tentativa tomamos o monte dos alemães e vencemos a batalha.

Você ri, ri de um monte da cagada e acha que a cagada veio de mim,

Vencemos sim, vencemos e eu pude finalmente voltar para mim, marchando assim: por mais terras que eu percorra não permita deus que eu morra sem que eu volte para o lar, sem que leve por divisa esse "V" que simboliza a vitória que viráaaa! Nossa vitória final, e a mira do meu fuzil, a ração do meu bornal, a água do meu cantil, as asas do meu ideal, e as igrejas portuguesas que roubaram o ouro do Brasillll, roubaram o ouro do meu Brasillll, meu Brasil! 

Ai, ai, ai, não bate, autoridade, dói, cassete, você é português ou é doente, crente, na chinelada ou nessa corda que me amarra...e por acaso é o senhor autoridade do papa?

Dói, tudo bem eu não voltei por mim, voltei pela pátria, sou obrigado a dizer que sim, eu voltei pelo verde que restou na bandeira simbolizando a alma portuguesa, ora pá, mas é verdade que eu estive lá, é o sistema, isso com certeza, o império de Dom Pedro Segundo, que tomamos como república de independência...não acredita, acha que sou maluco, maluco é o tempo que é esquizofrênico, eu estive sim, eu estive lá sim naquele tempo, mas agora eu me aposento se eu achar aquele bendito documento eu terei dinheiro, pelo menos para fazer a feira, com certeza.

Não ri, não ri da minha feira, não ri da minha crença na aposentadoria como independência, muito menos da morte, a minha aposentadoria é o fim, por que a morte é o limite da piada, não tem graça, o primeiro deu um grito e disse que ficava, e morto eu também fico! Independência ou morte, morte do meu negro humor que me aposento do ridículo, morto eu tenho dito!

Ai, não me bata, não estou morto não, era brincadeira cara, eu vivo, vivo pra manifestar o meu humor político, não, não me mordaça, não quer que eu conte uma piada, tudo bem eu lhe apresento aquela secretária, a polaca, a ruiva de pernas longas e curvas, branca, mas não me amarra, afinal quem não se encanta com a piada fora da cerca, hein, do limite, ou o sexo tem pátria, hã, cerveja gelada e uma linda polaca, para as autoridades ela não cobra nada, pra você o sexo é completo e tudo em troca de uma carta, paga, ela tem muita graça, bela, e uma boca de geleia, suga, que faz qualquer comunista entregar tudo e todo mundo, duvida, experimente, meias vermelhas, salto alto, mãos macias de tocar suas virilhas queimando com a língua, fogo, gozo, salvo, conduto, para mim é um documento oportuno e para ela então...não!?

Por que não, o sexo é divertido, tem graça, mas não é de graça, a polaca quer o salvo-conduto para continuar se prostituindo nesta praça, ora, tudo nessa vida se paga até o palhaço humorista que contou a piada, então, goza, porra, goza! Mas não de mim, não goza de mim que eu preciso muito de um documento assim...Tudo bem, eu confesso o documento não é para ela é para mim, a polaca já morreu, dizem que foi forçosamente aposentada pela pátria, em outras palavras: assassinada, impuseram a liberdade por essa arte inventada, a arma, morta a polaca, mas livre, livre, livres são as mulheres sem seus filhos, mataram todos os meninos, mini-espiões levando os recados; eu sabia que uma hora iriam acabar com esse mercado, lucrativo para o inimigo com a informação que davam, então matamos todos os meninos, matei as crianças daquele cortiço, deixei livres os guris para que virassem depois de mortos: anjinhos, anjinhos da liberdade... vamos fazer um minuto de silêncio pelo jogo que morreu e pelas crianças que eu matei em tão tenra idade, em nome da liberdade...   

Liberdade, liberdade, liberdade é um problema grave, mas não para as espiãs comunistas, mais para os humoristas, liberdade para a piada autoritária que induz ao erro, contraditório preconceito, feio, mas todo mundo pensa assim.

Todo mundo quer o controle da obra e da corda até o palhaço malabarista que se acha engraçado fingindo que vai cair para o lado, não é pela piada e nem pelo suspense da corda sem rede, é apenas pelo gosto de ver o desespero, de ter inventado o erro e no desiquilíbrio fingido, ele derrubou muita gente da plateia naquela arquibancada, humor negro, pregou o susto e o medo, mas ainda assim fez sucesso com a vara, piada? Não. É que como já disse: todo mundo quer o controle da obra, até o aposentado do malabarista com sua vara torta.  

Não, não era torta a vara do malabarista, como sabes, ha já pegou na vara do malabarista...ai, dói autoridade, shock, não, shock é coisa de alemão! Aaaa, não tem graça, treme tudo e o coração dispara, assim meu ovo vira clara, cidadão!

O que, o que foi, não é cidadão, a sim, é cidadão, mas especial por que tem privilégios, sei, vejo pelas medalhas penduradas no peito que é melhor do que outro civil sem direitos, eu sei, conheço o privilégio, sou palhaço, tenho o privilégio de controlar o riso, sério, sim, mas sou sério, eu também controlo o circo que é a obra: o canto, o cavalo, e o mistério que te num disparo!

Mas abaixa essa arma, não aponta pra mim, e se o dedo escorrega neste gatilho vou contar anedotas para São Pedro ajoelhado no milho, vira pra lá, eu sei que controla, não precisa provar nada, sei que controla até a bala, o que, quer que eu tire a camisa, por que, vai atirar e não quer estragar meu algodão crú , ou quer ver meu peito nu, afro, descendente, cafuzo musculoso de quem já puxou muito café nos ombros, pronto, tirei a camisa, senhor, agora quer que eu pegue três sacas de café e empilhe feita trincheira que esconde e separa. Sim senhor. Eu e meus irmãos construímos essas paredes feitas de taipa de pilão no braço e não seriam três sacas de café nessa casa do caralho do café estocado que terá um dia me torturado que vai me deixar aleijado, e ainda faço o trabalho cantando, que eu sou nagô: o senhor sabe de onde eu venho, venho do morro do engenho, das terras, (Das selvas), e dos cafezais, da água fresca do coco, da choupana onde um é pouco, dois "baianos" três é demais, você sabe de onde eu venho, venho do morro do engenho...


Pronto, e agora, não acredita que sou nagô, não acredita que sou negão, quer que eu tire a calça, tudo bem, tirei.

Estou pelado, só de cuecas, mas quem se importa com roupa de baixo, quando se tem na frente um homem armado. Ri, é uma piada, é engraçado, hã, não entendi, quer que eu passe para o outro lado, deixe de ser homem e vire viado, não, mulher, polaca, ah, quer que eu te mostre a prostituta que trabalha, a solidariedade, aquela que vende numa sociedade de consumo a caridade! Solidai-nos com a mais valia, o papel da operária é o trabalho, já o valor...virou mercadoria, solidão feminista, interessa, dizem que tem as cabeças maiores do que seus peitos e por isso se perdem, mas se acham, em maquiagem unha e cabelo, cabeleireiros, porém do outro lado, liberdade capitalista  do compre um e pague na verdade dois, em prestações suaves a perder de vista, ah, então eu passo,  por um crediário passei, pulei os três sacos desta mureta, não é trincheira é cancela, compro barato este tênis importado, então me abre que eu me abro, essa foi engraçada, palhaço, concorda, concorda que assim eu te dou de quatro, por um tênis de marca sofisticado, enfia, enfia a arma, vai, mas ainda não atira, tá gelada, agora quente, come, come vai, comeee, Tec-TEc-TEC, TOc- toccc- toc-toc, espere um pouco senhor, com licença, é que minha repartição não tem ainda telefone, tem telégrafo e eu tenho que atender, é um S.O.S., código morse, a mensagem deve ser urgente: tec, tec, té, tec, toc, mãe! Mãe,  tec, tec, toc, agora não mãe, eu estou sendo torturado, só de cuecas como um negro sem carteira de trabalho, toc, toc, toc, o que hã, sei na gaveta de baixo, tem calça jeans lavada e engomada, dobrada, sei, mas agora...tec, toctoc, tectec, toc, toc, tec, tec, eu sei eu digo a verdade pro moço, falo sim, mãe, conto, conto tudo, mas agora não posso atender o seu estado, toc,toc,toc, imposto, deixei na gaveta do armário, a de baixo, tec, tec, tec, o que aumentou de novo?! Broxei, abaixe definitivamente esta arma que eu broxei!

Não vai abaixar, não quer me desapontar, vai continuar mirando esse cano pra mim, assim, duro, sem o direito de um último desejo, e qual é o meu desejo: tomar banho, estou suado, sendo torturado há pelo menos 30 anos, nessa terceira linha, nesse limbo que é esta repartição pública, empoeirada e suja, mas será possível, é possível tomar um banho, sim, de cuecas, não, sem cuecas, quer que eu fique pelado, sem nada por baixo, assim, livre, em pele e osso, molhado, tá bem, mas aviso eu sou judeu, sim, não acredita, sou circuncidado, e esquizofrênico segundo o laudo do médico privado, não, não tem problema, não tem problema molhar a cabeça de baixo, tá bem, mas abra o chuveiro que eu me abro, não vai abrir, quer que o caboclo aqui abra sozinho enquanto você com esse capuz se fecha no pinto, sim, quer que eu tome banho rápido, por que, sempre cheirei o suor do meu trabalho, e daí, quer que eu fique perfumado, mas se vai me matar que importa o cheiro do moreno gelado, ai, assim não, ai, não me bata, eu abro, por que tanta pressa, não vai me fazer embarcar naquele trem lá na terra para tomar um banho  tão longe como lá na polônia, aliás nem sei aonde fica a Polônia, mas lá na Polônia tem água pra mim, por que aqui também não tem tanta água assim, ainda mais quando é para um preto chinfrim, mas, aliás, o que vai sair, o que vai sair daqui, não é gás monóxido de carbono, ou aquele veneno de alemão agrônomo, como no holocausto daqueles pobres homens que morreram sufocados depois dos nazistas pregarem uma mentira de banho tomado, piada de mal gosto, humor negro, e autoritário, ou pensa numa ditadura maior do que a morte, o engano, o gás tóxico para tomar banho. triste. muito triste. Há piadas que não deveriam ser contadas, humor tem mesmo limite.



Ai, já vou, já vai, eu abro, eu tiro a cueca e entro debaixo dessa água, é água, é mesmo água, gelada! Que água é essa, eu me esfrego, deixa eu vou devagarzinho, e o meu inhabuzinho encolheu, virou geladinho, sumiu, sumiu o meu menino, cadê, cadê você, meu pintinho, chega, fechei, não tomo mais, esta água está gelada de mais, pode atirar vai, pode atirar, bem na testa, pelas costas, que ninguém mais espera a morte que já não mais pondera.., o que, não concorda, a morte nunca ponderou e não pondera, ora mas por que então os espíritas de terreiro ou os de salão ficam equilibrando a razão, pois se já morreu ponderar por que então, deveriam ponderar o lado da vida, já eu, eu tinha mediunidade, mas agora não tenho mais, eu me livro dela, vai, atira, atira que nem mais a vida pondera, não quer me matar, quer, quer me matar mais de nu frontal, eu não vou me virar para a plateia, o nu também tem lado, atire assim, de lado, não, não quer ver minha bunda, mas o nu frontal é pornográfico e minha bunda é a piada engraçada, todo mundo pelado assim mostrando as nádegas é palhaço, muito engraçado, o que, não tem graça, meu cu rasgado parece um traço! Olha eu não vou me virar de frente definitivamente, mostrar o mameluco não estava no contrato, só mostro os músculos do meu braço quando carrego os sacos, sacos de café, não quer, ai essa arma, está gelada, na minha testa um soluço e você dispara...

O que quer, e se você me deixar vivo, faço um negócio contigo: eu te deixo me fazer de sua mulher, não quer, não, quer uma informação, qual é a informação que o senhor quer, eu não sei de nada não, corrupção, quem corrompeu quem, quem corrompeu o bem, ora, isso todo mundo sabe, foi a sua ética!  Ai, caralho, não bati, shock não, meu saco, dói abestado, isso corta, isso fere é de aço, quente, fura a gente, quando era no chicote eu era mais forte, está bem eu conto quem corrompeu a ética, eu conto, mas não me bati, foi a sua autoridade! Ai, ai, não bati, que eu falo, tudo bem eu digo, mamãe mandou contar tudo para o moço bonito, distinto de uniforme e medalhas, eu conto quem inventou a navalha,  eu conto até quem inventou a fachada!

Conto sim, eu sou o narrador da terceira linha, um outro estado de consciência e do alto daqui de cima, eu vi, o fluxo do tempo, meio vivo, meio morto, com esta ferida no peito, mas ainda assim eu vi o rio caudaloso, carregando os diálogos de um jogo inescrupuloso, todo tipo de promessa preparadas para não serem cumpridas, ganhar a guerra é tão vantajoso quanto perder a partida, armas apontadas para serem destruídas, indústria de fachada muito lucrativa, capitais e comunistas da guerra fria reinventando o inimigo, são eles capitalista e comunistas, os seus melhores amigos, sócios de bandidos, pagam para atirar a primeira pedra, pagam pela guerra, eu vi, em reuniões secretas, o passado e o futuro, combinando quem vive e quem morre, quem sai e quem fica, quem apodrece na miséria ou qual é a nação da vez que vai ficar rica, economia, pura fachada de mentira, crise, virtual como são todas as dívidas, democracia, só é aceita se for pelo fetiche da mercadoria,  tudo mentira, os registros, as datas, tudo combinado no rio caudaloso do ato, e você, amigo, inventando a vida espontânea, romântica, seu negro, buraco, capaz de comer a própria luz, agora que você sabe e que eu sei, agora que lhe contei, cumpra a promessa e me solte, assim, soltou, soltei, agora eu lhe giro ao contrário, aponto meus ponteiros pro teu lado e senta puá, ajoelha no chão e mama canalha! Agora a cobra vai fumar!

Tá gostando, tá, a Dita é dura, quente e vermelha, engoli tudo vai, inclusive sua língua, engoli até os dentes, e a tua ética de gente, branca e loura, nordestina e moura, azul, o velho chico nu, contingentes de soldados enganados providentes, sem casa, sem guerra, sem teto, derrubaram Antônio, derrubaram o Conselheiro, e ainda dividiram com os inimigos o morro e a decepção de não terem cumprido a casa que lhes fora prometido, ah o seu governo, soldados dividindo com os próprios inimigos o que não tem jeito, a corrupção, a fome, e a primeira favela, mocinhos e bandidos, todo mundo voltou da guerra sem cavalo e sem cela, mas o seu governo, sua república, até hoje é ela, que dita:


Então já que dita: engoli, que toda loura é burra, que todo negro é ladrão, que todo judeu é canguinha, que toda mulher prostituta não é mais mocinha, engoli, então, que todo japonês é bom em matemática, que todo gay desmunheca na sala, que todo brasileiro é samba, por que não é não!

Engoliu! Que bom, palhaço, por que a vida não tem a mínima graça e essa é a piada e o palhaço é quem acredita, eu por exemplo, acreditei no seu estado, mas você também acreditou, você jura que não sabia que a política das promessas é não cumpri-las, assim como as promessas de que todo ouro ficaria no Brasil, na promessa de que quando voltasse do Monte Castelo se aposentava com medalhas e privilégios, que se pegasse aquele trem seria um Judeu livre de Auschwitz,  e que se lutasse em Canudos teria casa pão e vintém, nunca a pátria cumpre suas promessas por que se cumprisse não seriam promessas seriam avisos, e ainda que se registrasse o futuro ato que existe numa promessa, ainda assim não seria uma promessa seria um contrato, aprenda uma coisa palhaço: o humor não tem mesmo limite, é um ente acredite, independente e soberano que ninguém controla, vive no ar, e se fosses realmente um humorista corajoso se lançava no voo, acredite, o palhaço nunca fora verdadeiramente soberano,  sempre fomos dependentes, portanto, agora te levanta por que este é o meu final de espetáculo de nu frontal pornográfico, e quero de volta minha carteira de trabalho, e enquanto o publico aplaudi o palhaço pelado, eu mesmo me aposento, e mato esta carteira de trabalho com seu estado de céu azul-claro,  rasguei, pá, matei! Mato também este teu céu amarelado, pá, mato o estado diverso pátrio, mato e mato, pá, pá, pá, todos os seus coloridos lados, matei, agora sim, eu viro essa cama de gato eu não tenho mais nenhuma pátria, nenhum estado, sou um palhaço auto-aposentado e vou embora, vou dormir lá fora, no limbo da calçada , como um anjo ao relento, por que eu não tenho mais circo, comida e nem mais casa, aposentei, mas por direito saio daqui e vou buscar o dinheiro de minha aposentadoria que virou uma metralhadora de palavras, que quase foram censuradas: pa rá, pá, pá, pá, pá, pá rá pa, pá rá pa, pa ra´pá pá pa´...  PÁ, você atirou? Você me acertou, pelas costas, você me matou, meu amigo humor traidor atravessou o peito, o sangue nunca escorreu desse jeito, o que é isso que o chão se aproxima, por que o chão se aproxima, o chão se aproxima... aposentadoria, é a morte minha, eu, o palhaço, faleci? O palhaço já era morto, fui eu que morri ou foi o humor que morreu em si...


FECHA O PANO, E FIM.


 










  


                

Comentários

FOXX disse…
Me deu a impressão de estar lendo um poema imenso cheio de referências históricas...
Fred disse…
Ficou bemmmmmmmm interessante!!!