Zona das sobras QW8 / Ficção Científica



Estavam nus como atletas gregos, de pele moura, com seus suores morenos dispostos ao exibicionismos de suas ginásticas, exibiam seus músculos como medalhas de guerra, competiam pela estética, pelo corpo perfeito, observavam um ao outro em silêncio, no olhar desviado como quem mede a largura, como quem mede a altura do respiro, que se erguia no esférico contender rosa; passavam assim os presos o seu tempo, eles se entreolhavam, pois longa era a jornada dos cegos presidiários, políticas sem sentença, mas são os olhares dos ponteiros genéticos das presidiárias que indicam a evolução do ato político quando nada se sabe ao espaço, ao destino sem referência, viagem de si mesmos eram aqueles dois de duas que mudavam seus gêneros com o olhar, com a facilidade de ser simplesmente, mas nem homem e nem mulher, apenas modernos incapsulados como comprimidos eram eles, eram elas, eram seres se movendo estáticos na contradição que era se mover assim, e navegarem capitados para serem logo depositados e mais do que isso, com o passar do tempo já não eram mais nada, estavam suspensos no ar, apenas exercitando a espera de quem não mais pondera, apenas levantando pesos na máquina de ginástica de pernas abertas. E ela se deitou sobre ele, e ele se deitou sobre ela como homem de sede, beijou os seios, pareios, sua vagina que desviava o pênis, penetrou sem dor, pois era belo o exercício do sexo, e mesmo sendo capazes de se auto-copularem, tocar os corpos nus era muito melhor, com seus uniformes de seda, pele perfeita, pois o tempo não envelhecera mais ninguém e assim sabiam em que zona estavam, próximos do planeta azul claro, antigo, e de muitos impasses políticos, mas fora planeta esquecido no último conflito e ao perceberem o choque aterrizaram, a porta da nave se abriu e eles se entregaram, e num último suspiro ejacularam seus passatempos e o sexo, e a porta deu um emergente aviso: esta nave se explodirá em 30 minutos ao contar de três toques surdos.  Correram, correram os dois, correram pelo planalto daquele planeta conhecido apenas por documentários, digitalizados como ensino de governo, correram sem olhar para trás e a nave ao se encher de gás, explodiu. Linda imagem, da nave esférica e rosa que se aqueceu num vermelho magenta, lançando seus pedaços no azul do infinito espaço e desapareceu. Os dois prisioneiros caíram com o choque da explosão como coincidências um sobre o outro como se combinassem os seus destinos, e poderiam prosseguir assim se não fosse o cadáver ao lado, branco, de um ser estranho que parecia dormir, mas estava morto, meio solto, meio enterrado, com os braços jogados e seus olhos escuros, apodrecia solitário, e um olhar mais ao lado fez os dois enxergarem aonde foram depositados, um mar de sobras, que ruía ao sentido do vento, som estranho que ressoava por entre as sucatas de naves espaciais inutilizadas, seres espaciais de diferentes galáxias adormeciam, tranquilos no seus sonos profundos, jaziam como cemitério para moribundos, e eles entenderam que morreriam do mesmo jeito, trancafiados num estranho planeta sem água e sem comida e também sem saída, assim um deles começou a orar, de joelhos, como católico de susto, diante do inferno que estavam como prisioneiros, um lixão, uma zona de sobras, e pela força da oração um sinal foi visto no céu descendo como cadente aviso, e nosso amigo com sua fé sorriu crendo que aquela luz, seria mesmo uma dádiva, uma nave, talvez água lançada para os esquecidos homens que foram condenados sem saber qual eram os seus pecados, pois no pragmatismo do novo julgamento, não havia mais necessidade de provas, não havia mais necessidade do porquê, apenas a conveniência assumida de se livrar do que ninguém mais queria, os padres, os religiosos e seu poder. Mas a fé sempre vence na adversidade pela mágica que cria razões além das aparências e os dois seguiram atrás da luz na esperança de ser mais que um meteoro, como providência o céu traria o príncipe da paz que explicaria tudo aquilo que não se sabe, a verdade. Foram ansiosos, de mãos dadas, apressando os passos até chegarem em alguma estrada com o senso do espírito que lhes explicassem os motivos de estarem condenados sem advogados, mas no caminho, era difícil, seguir aquela luz, que caiu no infinito, próxima de uma cratera, distante, e doravante tropeçavam em algum outro ser, talvez todos mortos, todos aos pedaços, mas mesmo numa atmosfera de gases tóxicos manteriam a oração para passarem por este estágio quando um duvidou, mas e se for mesmo apenas um meteoro, e se for apenas uma sonda que recolhe ou trabalha, ou apenas deposita mais corpos nesta casa nefasta, e respondeu o outro que teriam que caminhar ainda que não tivessem mais fé ou certeza de nada. Caminharam, como seres humanos e seus longos passos, um se apoiando no outro como enamorados, mas que depois de um beijo como descanso, fariam a reflexão necessária sobre o destino de suas vaginas e espadas, eram hermafroditas e se auto-reproduziam, então seria fácil vencer a solidão, mas desde o final do impasse político que lhe assegurava o planeta terra, as naves que se escondiam, não se escondiam mais, os seres espaciais extraterrestres perderam o interesse pela terra, afinal nada encontraram nela, que lhes melhorassem a genética, então largaram, indiferentes, deixaram o planeta como depósito de ninguém, pois no tempo feliz que viveram os dois, o grande já voltara, disse toda a verdade sobre o sexo que lhe fora perguntada, disse, sexo é sexo, tão somente, mas depois da trágica explosão demográfica a vida virou, um plano de sexo só, sem as moralidades comuns ou convenientes, até que, as igrejas não eram mais necessárias, e os padres foram então renegados, exilados em diferentes galáxias, eram inconvenientes, um peso para o governo e seus motivos sistêmicos, como o necessário controle de natalidade e além do mais depois de toda verdade dita, sem dogmas, o que fazer com os padres hermafroditas, independentes, que se auto-reproduziam, mas mesmo assim, eles por sua fé, juntos, seguiram, já em delírio pela fome e sede até que... Lá estava a nave, branca, reluzente, mas não para os novos padres indigentes, e de lá saiu a fila de criancinhas, renegadas, com defeitos, autistas, cegas, algumas humanas pouco utilitárias e outras de outras sistemas de estrelas para serem ali, naquele planeta, depositadas, todos os pequenos que eles não queriam mais, algumas já estavam mortas e eram colocadas em caixas e depositadas em solo indígena e ignoradas, e disse o homem, o mais alto funcionário do governo orgulhoso com cara de dever cumprido, falou, pronto, depois daquela explosão demográfica e de toda verdade dita aqui as pessoas poderão ser esquecidas. O homem ruivo, de cabelo e barba, fechou a porta da branca nave e sem resgatar os padres seguiu sua viagem: zona das sobras qw8, zona da mata, do planeta terra partindo, o serviço com êxito foi finalmente concluído. desligando, e os padres hermafroditas descobriram que depois de toda verdade dita suas igrejas perderam seus sentidos e eles eram as sobras de um sistema que continuava se reproduzindo.




              

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