Oscar na curva do corredor / Conto erótico

Ele alisa o rosto leve acariciando o maxilar em tom observador com seus dedos grossos que especulam sua própria forma, a forma do pensar, forma em que os dedos levam as mãos ao queixo, fixando o olhar na janela do seu apartamento que vai do chão até o teto, pois numa kit-net há mais janela do que apartamento, apartamento de um profissional que se arrisca na paisagem e se lança com sua máquina fotográfica para um mergulho na cena do trânsito absurdo que segue lá embaixo, no asfalto, se fingindo lento, ainda mais para quem fotografa do trigésimo sexto andar  do bloco b, e isso é apenas por uma foto-teste de ajeitar o foco da lente, manualmente, mas não por que o trânsito fotografado aqui de cima seria uma foto atraente, atração mesmo seriam aquelas imagens de meninas pousadas, bem de perto, no nível da calçada, noturnas, mal comportadas com seus batons vermelhos e curta saias que aparecem mais do que os joelhos, lindas, nada tímidas, de amarelo ouro nos fios de cabelos, ruivas taciturnas, cor de uva, querendo ser mais do que a curva das esquinas mostrando os bicos dos seios, mas nunca, os bicos são bonitos porém o que vale é o volume dos peitos, sim, isso sim, é foto para mim. Tirei, tirei sim, uma, duas, ou mais de uma, para que eu ficasse satisfeito, depois foram reveladas e penduradas nas paredes do meu apartamento, veja por exemplo, o eros caridoso da Japonesa generosa, que exibia seu pênis feliz com um sorriso no peito, doava duro na boca do mendigo sortudo a sopa de leite quente que derramava às colheradas nos lábios sujos, em plena praça da miséria independente que era aquela república de indigentes. Naquele dia fotografei, fotografei sim, bem no ato do pau ejaculado que era o estado de uniforme noturno, eu vi, vi tudo acontecer ali, gratuitamente sem que nenhum policial estadual me exigisse o preço, foi mesmo assim, bom pra mim, que fotografei o desespero satisfeito do mendigo que matou a sede em veias latentes segurando firme e engolindo crente: as bolas devidamente raspadas, desenhadas para o ofício em forma de coração de cupido, lindo falo masculino na mulher do oriente, falsa japonesa, mas cristã honesta por que não pensou em dinheiro, não cobrou nada do mendigo, mesmo ela, que usava guia como qualquer espírita, cobrou do pobre-coitado, sequer uma taxa para sua igreja como se fosse uma evangélica legítima, sim, ela não cobrou e eu fotografei seu desapego. Assim, neste dia subi correndo para matar as saudades de mim mesmo, antes que eu esqueça que o sexo existe, eu pendurei a foto na parede do meu apartamento porque fotografei o meu próprio desejo, sempre tive medo de esquecer o ato já que em sexo nada faço. desde de que eu descobri que a máquina fotográfica é o meu verdadeiro falo, sim, eu não transo, não tenho contato, nem de um cigarro oferecido, eu sequer dou um trago, por mais bonita que seja a menina eu sempre me calo,  pois eu prefiro sair com a fotografia do que com a modelo de fato, então pensei: vou subir para o meu quarto pelas rampas do meu prédio por que o arquiteto comunista acredita que degraus de escada é coisa de capitalista que quer sua ascensão social, eu não, para mim a rampa em linha reta é funcional, apesar de que eu também gosto desses corredores curvos que escondem as centenas de portas amarelas, fingindo ser provinciano um prédio monumental, mentira de estética socialista por que para o eco é tudo igual, e eu que fotografo com os ouvidos, naquele dia fui capaz de ouvir os gemidos, e os sapatos benditos daquela japonesa que por trás vinha me seguindo, corro, e tenho a sorte de que as curvas deste corredor mostram as portas aos poucos, ela não verá qual é a porta que vou entrar e terá que me procurar, coloco a máquina em cima da mesa, na beirada da sala com a porta entreaberta e quando menos espera ela, disparo iluminado mais um momento a revelia, entrei e armei minha máquina e só pelos ouvidos fotografara o barulho do salto, salto indignado no corredor que pousa no meu capacho, pronto, cliquei, de susto nela e ela ao perceber o flash deu um tapa na minha máquina gritando endiabrada uma língua que ninguém fala, exigindo seus direitos. Calma, disse eu, assim você quebra minha máquina, e respondeu ela, quebro até a sua cara! E eu reclamei, mas por que você fica tão brava se eu nem vou lucrar com essas fotos e nem publicá-la, mas teimou ela dizendo: eu não quero que elas sejam usadas, eu estou vendo as manchas no carpete desta kit-net, empoeirada, da-me a foto, ou vou gritar o suficiente para te dar uma multa que você não vai ser capaz de pagar, são mais de 800 reais!  Não!  E não é que a traveca jogou-me no sofá, pegou nas minhas bolas e começou a apertar, doía lento, e eu parei de respirar, quando expliquei quase vermelho: era o meu desejo fotografar o desapego! Ela então tirou as minhas calças, abriu as minhas pernas e as pôs para cima beijando minhas virilhas e meteu a língua no meu ânus descrente, depois penetrou seu pênis e me deu uma comida, cínica, você se veste de mulher e sai com os homens e come! São mil reais, disse ela tranquila, e eu dolorido do cu até o umbigo, cansado naquele dia, não tive outra saída, paguei a modelo da fotografia, e ela se vestiu, sorriu e disse que dessas curvas deste famoso prédio esta era a sua tangente, falou alisando sua cintura e ainda disse: mas pode ficar com as fotos que eu não tenho apego, e eu respondi: então devolve o meu dinheiro,  e ela explicou, eu não tenho apego pela foto, mas comer o fotógrafo da fotografia esse era o meu emprego, e por que você não faz o mesmo: empregue o seu desejo, e saiu batendo a porta me deixando este conselho, e hoje eu não fico mais só me estimulando com a fotografia, eu tenho contato, mudei de lado, hoje desisti da minha máquina fotográfica e optei pela palavra por que nela cabe qualquer imagem de minhas reflexões num conto erótico bem feito, virei escritor de imaginar o eros do amor e creio que aceitei o seu conselho, pela caneta empreguei o meu desejo, e não me preocupo mais, pois sei que o sol muito quente de verão entra só até o parapeito e o sol de inverno chega até o fim do meu apartamento, e tudo se encaixou no jeito, Niemeyer é um gênio.









                           

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