Orixás nos limites da terra / Paiva 2018



Virei os olhos no céu de Olorum e agora sou eu que vigio em vez de ser vigiado, mas Ogum, não foi ele que causou um problema, ele apenas fincou suas estacas de ferro para avisar do perigo que representava nossa pífia reflexão sobre o ambiente salobro que tudo decanta, apodrece e renasce, pois tudo na natureza se movimenta, e se Exú nos orienta, não nos dará um conselho sem a devida reflexão da responsabilidade que é usarmos a própria cabeça: que Ori representa, e já que nós temos fome e sede, não haverá função verdadeira em qualquer que seja a tecnologia se nós poluímos inventando um obscuro muro que nos separa dos orixás e da natureza, então, toda lenda é aviso, aviso para nossas ciências, e nada está ao pé da letra: diz o nego velho, que também observa que nunca pediu nada, pois se a felicidade é sua, ainda que sejas grata, a gratidão sincera não se paga, com o dinheiro dos homens, que fragmenta os reinos na filosofia que individualiza essa contenda, pois o reino Orixá não briga, nem quer a terra dividida, pois a guerra é nossa, assim como a lágrima de nossas tristezas, Orixá não chora, mas chove, e faz um rio, porém quem derrama somos nós, quando cimentamos o panteão Iorubano, ou de qualquer geografia indevida, artificialmente colorida pela força da escravidão de nossos interesses, mas se quem escraviza somos nós, pelo desejo de nossas medidas, somos capazes de medir o tamanho da cobra, que Oxumaré transforma, também como aviso: toda causa tem efeito, e se tem remédio é por que tem veneno, essa é a lei, da ciência do direito, onde o orixá puro, é sim, justo, e a dor e o amor é o que nos cabe, evitando o orgulho, diz Oxalá, orixá, que condenou Xangô fazendo dele um rei humilde que só come no chão, rei sabido, Oxalá avisa que ainda que sejas o mais forte, não tem sentido alimentar o próprio inimigo só porque vive da guerra, senta-te no chão e espera, que os amigos de conselho também se lançam, no reino de Orum, no céu, do tempo. Assim, Oyá, que talvez entregou a orelha pensando ser o ouvido, escutou que construímos nossa consciência pela conveniência, mas a ciência do comportamento da natureza é sempre mais e maior do que cabe em nossa cabeça. Assim como o espelho de Oxum que não só serve para ela porque reflete nossa responsabilidade e muito menos usa o espelho por vaidade, já que ele não existe sem areia, sem o fogo, sem a temperatura do tempo. O espelho é para nós, instrumento para a reflexão de nós mesmos, refletindo a luz de nossas consciências, pense, para que serve o mais elementar dos Orixás se não formos capazes de alcançar, um oriente. Repense, quem religas tua carne ao sol do dia, ou a noturna lua branca de uma noite fria, não negarás que a mãe terra é quem é: a verdadeira soberania.  axé!        

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